Fundado em 2018 por ex-alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Instituto Reditus administra um fundo patrimonial cujo objetivo é apoiar projetos de alunos da instituição. Em latim, a palavra reditus significa retorno, retribuição.
O primeiro edital lançado pelo instituto distribuiu R$ 100 mil para 12 projetos inovadores de jovens estudantes, entre os quais um drone autônomo para patrulhar e coibir crimes ambientais e uma plataforma de foguetes de sondagem atmosférica para transportar experimentos embarcados. O segundo edital, lançado em agosto deste ano, vai distribuir R$ 300 mil para 17 projetos.
Ele recebeu 55 inscrições, envolvendo 538 alunos, com crescimento de 67% em relação ao primeiro edital. Atualmente, o foco para apoio está centrado nas áreas de engenharia, ciência da computação e matemática da UFRJ, informou à Agência Brasil Henrique Duarte, presidente, um dos fundadores do instituto e ex-aluno de engenharia da universidade. O próximo edital será lançado em agosto de 2022.
Duarte explicou que o modelo de doação (endowment), adotado pelo Instituto Reditus, se caracteriza por receber doações para formar um patrimônio e repassar para os projetos o rendimento obtido por esse patrimônio. “O tamanho de repasse vai depender de quanto a gente consiga captar”. Duarte observou que quanto mais gente doa, mais se consegue repassar e gerar impacto para os alunos da UFRJ e os projetos deles.
Inclusão e equidade
A opção para apoio são projetos que incentivem o desenvolvimento tecnológico e o progresso científico. No edital de 2021, entretanto, a banca formada por ex-alunos e professores da UFRJ selecionou o projeto “Tem mina no circuito”, na categoria inclusão e equidade. “São professores da UFRJ que identificaram que uma das maiores dificuldades para uma mulher de escola pública estar na engenharia da UFRJ é que ela não tem o interesse. Eles visitam escolas para contar um pouco como são a engenharia e os cursos de exatas na UFRJ e depois levam as alunas para conhecerem o campus‘”. Segundo destacou o presidente do instituto, é tecnologia com inclusão e equidade.
O Reditus é um instituto privado, sem vinculação formal com a UFRJ, controlado por cerca de 180 grandes doadores, a maioria ex-alunos da universidade. Grandes executivos estão entre os doadores, como Carlos Brito, ex-CEO da AB InBev, e Sidney Levy, presidente do Conselho de Administração da Valid. A relação inclui Geraldo Tomás e Mariano Gomide, fundadores da VTEX, empresa que acabou de abrir capital na Bolsa de Valores de Nova Iorque; Luiz Fernando Edmond, ex-CEO da AB InBev; e Gilberto Castro, ex-CEO da Estácio, entre outros. Outra grande doadora, criada por ex-alunos da UFRJ, é a Consultoria Viságio. Cerca de dez pessoas doaram mais de R$ 500 mil, cada. “É um quadro bastante grande. Tem muita gente envolvida”, disse Duarte. “É um negócio que só é possível quando você engaja toda a comunidade”.
Turmas
Gilberto Castro afirmou ter comprado a ideia de imediato. ”É muito empolgante poder devolver à UFRJ parte do que ela me ajudou a conquistar e, assim, contribuir para a manutenção de sua história de sucesso”. O fundo patrimonial investe os valores doados por quem já passou pela instituição. Em outubro deste ano, duas turmas de engenharia da universidade, formadas em 1989 e 1997, doaram juntas R$ 1,4 milhão para o Reditus. Em 12 meses, o fundo já arrecadou R$ 10 milhões.
Henrique Duarte afirmou que não há uma meta estabelecida para as doações. “O céu é o limite quando você olha para os endowments‘”. Informou que a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, por exemplo, conta com um fundo de US$ 53 bilhões, e os rendimentos desse montante são responsáveis por sustentar mais de um terço de seu orçamento total. “No longo prazo, essa é a nossa meta”. No curto prazo, a meta era alcançar este ano R$ 15 milhões. Ele considerou, entretanto, que embora esse valor não tenha sido captado, “foi super bom o resultado”.
O presidente do Reditus destacou que, no Brasil, não há costume de serem feitas doações por turma. As duas primeiras reuniram recursos de R$ 700 mil, cada uma, para ajudar os alunos atuais da UFRJ. “É um modelo super interessante. Imagine se cada turma fizesse isso. O endowment cresceria muito rápido. Fica aí a sementinha, a ideia para que esse modelo de doação em turma cresça para ajudar a UFRJ”, sugeriu o presidente do Instituto Reditus.
Corrente solidária
O Reditus foi fundado em 2018, a partir de uma corrente solidária. Em 2011, o ex-aluno Daniel Spilberg decidiu pagar uma bolsa de estudos na Itália para Raphael Sodero, então na UFRJ. Alguns anos depois, Sodero, por sua vez, arcou com as despesas de estudos de Henrique Duarte em Portugal. Juntos, eles integram o grupo fundador.
De lá para cá, transparência e austeridade na administração dos recursos se firmaram como compromissos fundamentais. O instituto conta com auditoria da Ernst & Young e consultoria jurídica do Pinheiro Neto Advogados. Informações sobre doações podem ser obtidas no e-mail.
Edição: Valéria Aguiar